Ao brindar seus 456 anos de vida e com a taça cheia de champagne, São Paulo foi intimado a fazer o tradicional discurso de agradecimento aos seus convidados. Todo já levemente embreagados se silenciaram para ouvir o aniversariante não menos bêbado:
“Primeiro, muito obrigado mesmo pela presença e permanência de todos os 11 milhões de pessoas que aqui estão.
Lembro-me muito que eu comecei pequeno, mas já com muito potencial e ninguém perdeu tempo. Viram logo que eu seria a maior força que se podia projetar em alguém e investiram em minha carreira.
Durante todos esses anos aprendi a acolher tudo e todos, a dar chances a quem quisesse, a abrir espaços para que chegasse ainda mais e minha família foi crescendo desenfreadamente.
Tudo estava correndo muito bem mesmo, minha generosidade sempre foi uma marca muito forte de minha personalidade. Consegui enriquecer muita gente e dar condições de realizar sonhos a milhões. Até que, num dia qualquer me apresentaram um famoso provérbio que dizia algo parecido com QUEM DÁ O DEDO, LOGO FICA SEM O BRAÇO. Entendi perfeitamente, mas ao mesmo tempo não me ocorreu que estavam se referindo a mim, pois afinal de contas o que mais eu poderia dar a alguém além de meu espaço, dinheiro, diversão, cultura, gastronomia e a mais famosa garoa?
De qualquer maneira isso não saiu da minha cabeça e comecei a observar melhor ao meu redor. Infelizmente eu vi, gente. Doei demais e agora me dói.
Aposto que todos aqui vieram de carro, certo? Pois eu digo que não cabe mais. E estão aumentando minhas marginais. Mas vai continuar não cabendo. Minhas poucas terras foram cobertas de cimento e as águas de minha chuva não têm mais por onde escoar. A mesma chuva que vem pra aguar se tornou um transtorno e até letal.
Tudo está apertado e apressado, o que fizeram de mim? Algo que aumenta infinitamente? Onde irei chegar?
Não se esqueçam que artistas se inspiram em mim para escreverem suas letras e músicas, seus sonhos mais profundos e devaneios. Mereço respeito e não apenas esse extenso bolo que cresce um metro a cada ano e que todos irão avançar e competir pra ver quem pegou o maior pedaço.
Por isso meu discurso de agradecimento se tornou um desabafo: Se não podem ser gratos por tudo o que têm graças a mim saiam já todos daqui e parem de se embreagar às minhas custas. Quem ama cuida e estou enfermo, não morrerei nunca porque o egoísmo de cada um não me deixará descansar e já que é assim me devolvam a vida sem esse cansaço que tanto sinto agora.
Ah, e por favor, antes de saírem deixem suas taças. Obrigado.”
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Ai que saudade de São Paulo! Do aniversário e principalmente do Bolo! Eu morava do lado do Armandiho do Bixiga e vi muitas vezes a agitação do bairro prá fazer o bolo de aniversário.
ResponderExcluirMuito legal! O bairro, as pessoas, o museu do Bixiga!
Parabéns São Paulo e vc tem razão Lu - São Paulo precisa de mais carinho, mais cuidados e menos egoísmo das pessoas!
Mas viva São Paulo!!!!
Sobre o bolo tem um site legal http://www.bolodobixiga.com.br/2008/index.html